Sítio de Meu Avô, Santa Terezinha de Goiás, 1994
– Quem vem lá?
Meu avô olhava de cima de seu cavalo mirrado par os quatro desconhecidos que apareciam de dentro da mata que cercava seu sítio arrendado na fazenda de João Grande.
– É Arthur! A gente traz umas visita que o sinhô vai adorá!
– Quem?
– Arthur! Trouxe umas visita!
– Quem nesse mundo de Deus vai visitar um véi que nem eu! Se fô pra caçá onça, é bom vortá que meus zói num dá mais conta não, uai! – Arthur e Bertolino riram alto.
Meu pai avançou e disse:
– Num me conhece não?
– Ah, meu fio, as vista num deixa não! É o Toinho de Cidinha?
– É não, seu Berto – disse Arthur…
– Eu sou Diogo.
– Diogo? Uai, se for o Diogo de Deuza tu tá muito branco e alto. Ôxi que ele tu num é ele, nem!
– Diogo de Laura…
Silêncio, uma grande tensão no ar…
– Diogo de Laura?
Meu pai assentiu, com os olhos cheios de lágrimas.
– Dioguim? Meu Deus do céu, tem piedade de mim! É Diogo de Laura? Arre, num pode ser não!
– É sim, seu Berto é ele sim!
– É meu fio! É meu fio! Eu num disse que eu tinha um fio grande, bonito! Eu não disse… Joana, Joana! Faz café que as visita vai ficá!
Os dois se abraçaram em meio a lágrimas.
– Pai, pai, que saudade! Como tá as coisa aqui?
– Ah, fio, tá do jeito que Deus dá. Deus dá, Deus tira, a gente reza pra ele ser bom e piedoso. Num tem de quê reclamá não. Se fô mió ou pió, é pruquê foi Deus que quis. Joana, vem pra cá, mulé de Deus!
– Arre, Bertolino, que eu tô toda atarefada. Que é que tu qué gritando meu nome assim desse jeito? Ôxi…
– É Dioguim, de Laura!
– Quem?
– Dioguim de Laura!
– Tu vem me chamar por causa de docim de passa? Tu num tem vergonha não, Bertolino!
Todos riram, menos dona Joana, irritada…
– E esse povo todo que vem aqui nesse fim de mundo! Só farta sê crente!
– É DIOGUIM DE LAURA!
– Ah, mas quem é esse tar de Diogo de Laura! E traz esse monte de menino! Só falta essas tentação bulir com as galinha e os porco! Bando de indemoniado!
Esse foi o começo de uma tarde muito engraçada. Tarde de encontros, histórias e lágrimas, muitas lágrimas. Tarde exótica, porém inesquecível.
Janeiro 22, 2008 às 6:51 pm |
Tô adorando isso aqui. Cê sabe, né?
Janeiro 23, 2008 às 2:08 am |
Hein? Cuma? Vitrola… (lembra desse ótimo comercial?)
Deve ter sido emocionante o re-encontro de seu pai e seu avô!
Acho que quando eu for velha vou ser igualzinha à dona Joana… já sou praticamente!
Janeiro 24, 2008 às 10:18 am |
Que conto delicioso…. me senti lá no interior, gente simples…. um presente… me lembra meus velhinhos, e suas histórias de infância no interior de minas… eu paulista da capital nunca pude desfrutar tamanha riqueza…..
Bjus, Aline Lima
http://alineol.wordpress.com/
Janeiro 24, 2008 às 4:53 pm |
Cara, eu não sei se isso é real ou conto, mais é excelente de todo modo!!!
E muito bem escrito!! Adoro regionalismos bem empregados no discurso.
Lembra muito um poema meu chamado “Método Paulo Freire”.
Abs,
REMO.